segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Colcha de Retalhos

Quis fazer uma colcha de retalhos com todos os livros que li até hoje. Toda costurada cuidadosamente, com as músicas que marcaram, de uma forma ou outra, a minha vida. Essa colcha não quero que esquente minhas noites ou enfeite meu quarto. No quarto basta a cama voltada para a janela sem cortinas. Deixe o sol entrar sem controle nas manhãs. No quarto basta o vento de ontem. Também não colocarei a colcha na sala, ali ficarão apenas o livros como gatos pelos cantos, o tapete e o sofá. A marca de café no piso eu alimento aos domingos, dia em que reservei para descanso, conforme me foi ensinado. O restante da casa são tijolos, azulejos frios e tinta. Nada mais precisa. 

Farei essa colcha para envolver você de mim. Para que todos os meus pedaços de ilusão esquentem sua alma e você possa, em cada retalho, visualizar todos os sonhos que tive. Letras e som. Todas as vezes que sorri, dancei, chorei e senti o coração pequenininho com as personagens, serão agora aconchego em sua pele. E você saberá que o meu maior tesouro lhe foi dado como amor, construído aos poucos e de graça, sem pedir nada de volta. 

Quero que cheire como quem cheira um livro que acabou de ganhar e escute cada costura, para sentir a vibração das notas. Quero que descanse ali, com o sossego de quem tem paz nos ossos e a certeza do afeto.



quinta-feira, 20 de junho de 2013

Tempo perdido

Esperando... vejo os minutos escorrerem do relógio e caírem em cacos no chão. Correm para a vala comum do tempo perdido.... tempo que não para.


segunda-feira, 6 de maio de 2013

Lobo da estepE

Não sei vocês, mas eu carreguei comigo, até o presente momento, a tola certeza que teria amanhã, sempre tomando como base o sol que nasce todos os dias. Lembro das aulas de filosofia, que assistia cheia de encanto, na faculdade: "se uma árvore cai, no meio da floresta e não há ninguém para ver, a árvore realmente cai?" ...ou algo assim... Lembro das discussões acaloradas em botecos e percebo como o tempo foi e é cruel, assim como as pessoas. O lobo que caminha sozinho na estepe devora seus pedaços, pois só sua própria carne pode alimentá-lo. Cortei os cabelos e as unhas, mas ainda tem algo em mim que deve ser cortado. Cordão umbilical? Não creio... Crença...crer em quê?


A esperança é como a fumaça desse cigarro. Engana, disfarça, mas se desfaz no ar. A música é essa alma dançando, que no silêncio da noite não sabe o que fazer. Os dedos traem os pensamentos, pois não conseguem acompanhá-lo e registrar o que se passa. Queria de fato saber quais as perguntas certas a serem feitas, pois só assim teria a possibilidade de respostas. Mas a voz não sai e se saísse não ecoaria no vazio. Minha bússola quebrou, e os cacos prenderam-se ao chão. Quão longo um dia pode ser? 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Letras

Ao longo da madrugada houve-se apenas as teclas da antiga máquina de datilografia. Surge no papel amarelado os pedaços da alma que teimam em se juntar. Cada letra ganha vida, tatuando nas folhas o que não pode mais ser guardado. Colcha de retalho, dentes-de-leão ao vento. A gaveta da antiga mesa não tem mais espaço, e o chão fica como o quintal no outono. O silêncio tenta confortar e impõe-se diante do relógio de parede sem pilhas. 
As mãos não sentem o cansaço e a xícara com o café já frio torna-se auxílio para o cinzeiro transbordante. Todos os dias são iguais, iguais a tantos que andam mancos. Iguais a tantos que andam loucos. Pelos cantos do quarto os livros lembram gatos e o vestido pendurado no cabide grita por sereno, grita por luz do sol.


Um último cigarro enquanto o céu perde seu escuro. Começa um burburinho lá fora. Hora de fechar as cortinas e deixar a mente não pensar em mais nada...