Ao longo da madrugada houve-se apenas as teclas da antiga máquina de datilografia. Surge no papel amarelado os pedaços da alma que teimam em se juntar. Cada letra ganha vida, tatuando nas folhas o que não pode mais ser guardado. Colcha de retalho, dentes-de-leão ao vento. A gaveta da antiga mesa não tem mais espaço, e o chão fica como o quintal no outono. O silêncio tenta confortar e impõe-se diante do relógio de parede sem pilhas.
As mãos não sentem o cansaço e a xícara com o café já frio torna-se auxílio para o cinzeiro transbordante. Todos os dias são iguais, iguais a tantos que andam mancos. Iguais a tantos que andam loucos. Pelos cantos do quarto os livros lembram gatos e o vestido pendurado no cabide grita por sereno, grita por luz do sol.
Um último cigarro enquanto o céu perde seu escuro. Começa um burburinho lá fora. Hora de fechar as cortinas e deixar a mente não pensar em mais nada...