Quis fazer uma colcha de retalhos com todos os livros que li até hoje. Toda costurada cuidadosamente, com as músicas que marcaram, de uma forma ou outra, a minha vida. Essa colcha não quero que esquente minhas noites ou enfeite meu quarto. No quarto basta a cama voltada para a janela sem cortinas. Deixe o sol entrar sem controle nas manhãs. No quarto basta o vento de ontem. Também não colocarei a colcha na sala, ali ficarão apenas o livros como gatos pelos cantos, o tapete e o sofá. A marca de café no piso eu alimento aos domingos, dia em que reservei para descanso, conforme me foi ensinado. O restante da casa são tijolos, azulejos frios e tinta. Nada mais precisa.
Farei essa colcha para envolver você de mim. Para que todos os meus pedaços de ilusão esquentem sua alma e você possa, em cada retalho, visualizar todos os sonhos que tive. Letras e som. Todas as vezes que sorri, dancei, chorei e senti o coração pequenininho com as personagens, serão agora aconchego em sua pele. E você saberá que o meu maior tesouro lhe foi dado como amor, construído aos poucos e de graça, sem pedir nada de volta.
Quero que cheire como quem cheira um livro que acabou de ganhar e escute cada costura, para sentir a vibração das notas. Quero que descanse ali, com o sossego de quem tem paz nos ossos e a certeza do afeto.