segunda-feira, 2 de outubro de 2017

... dO AMOr...

a ultima vez que te vi era um sábado. havia chovido e eu dirigi por muitos quilômetros até encontrá-lo. ali já te amava. um sentimento que poucos conhecem e menos ainda são os que entenderiam. você soube no dia em que me conheceu que eu estaria destinada a esse eterno amor. 
a última vez que te vi era um sábado. havia chovido e eu estava com uma camiseta branca. ali já te via com os olhos livres. ali já te desejava o mundo, mesmo que já o tivesse.
a última vez que te vi era um sábado. havia chovido e eu mantive o silêncio de quem se basta com a certeza de amar. tomei meu café próximo a uma grande parede de vidro, aproveitei o vento da cidade interiorana para um cigarro e voltei para minha casa com toda felicidade que cabia no coração.
a última vez que te vi era um sábado. havia chovido e por um motivo inexplicável eu não consigo recordar se toquei em sua mão, mas eu consigo, perfeitamente, sentir seu cheiro. 
a última vez que te vi era um sábado. havia chovido e eu queria te dizer dos sorrisos que conseguiu fazer brotar na minha boca. queria te contar das vezes que chorei com as suas palavras, mas em nenhum desses momentos faltou amor. é um amor que poucos conhecem e menos ainda são os que entenderiam. 
a última vez que te vi era um sábado. havia chovido e eu tive certeza que aquele lugar seria meu. lugar de quem ama e não espera por mais nada além da existência do ser amado. saber de suas andanças alegra meus olhos. escutar suas leituras faz minh'alma dançar. e fica tudo tão leve. te ler é bálsamo. 
a última vez que te vi era um sábado. havia chovido e ficou no meu coração uma prece diária por não ter sido a última vez que te vi.


segunda-feira, 17 de julho de 2017

... pARTIDa...

... hoje eu consegui juntar todos os meus cacos e resolvi, eu vou partir. Não vou para Pasárgada, pois lá tem muita gente, muitos resolveram ir para lá. Também não vou para Puta Que Pariu, mandei muita gente para lá, pessoas que não quero encontrar. Vou partir para um lugar que ainda não sei onde é, mas com a certeza que seja um lugar onde tenha o céu de um azul único, mas que não deixe de ter tardes cinzas, pois o cinza acalma a minh'alma. Hoje com todos os cacos juntos na bolsa, vou colá-los, com uma resina dourada, tal qual os japoneses. Lá, onde ainda não sei onde fica, vou começar tudo de novo, por quê sempre assim: eu sempre recomecei e sempre deu certo e agora não será diferente. 
Junto com meus cacos levo todas as músicas, as que dediquei e as que escolhi para mim. Levo também os meus livros, para que fiquem empilhados na sala, como se fossem gatos. Ah, os gatos também vou colocar na sacola.
Minha bagagem é grande mas não posso deixar de carregá-la, pois a minha bagagem é o que me torna o que sou hoje. 
Nesse lugar que ainda não sei para onde vou terei almoços de verão e vinhos nas noites de inverno. Vou escolher bons filmes para assistir quando for sábado a noite e terei uma cama macia para as manhãs de domingo. O sol entrará pela janela, visto que a cortina ficará sempre aberta. Os banhos de sol fazem bem para o corpo, alegram a alma. 
O girassol que plantei no jardim deixarei para trás, não preciso dele. Ali ele irá crescer, bem onde eu deixei. Vai criar raízes, até o máximo que conseguir e esse girassol continuará crescendo. 
Hoje resolvi partir porquê é a única opção que eu tenho, e ainda bem que eu tenho essa opção. No dia em que não as tiver mais, acabou tudo. 
Esse mesmo vento que sopra no meu rosto agora irá soprar onde eu for. O vento não muda. É o mesmo em todos os cantos do mundo. Quais cantos?
Não levarei bússola por não precisar. Os meus olhos indicarão quando encontrar onde preciso ficar. Quando eu olhar e os olhos brilharem é lá que eu vou ficar. Lá terei outras flores, lá terei outros aconchegos, outros mimos. Quem sabe outros abraços... mas se não encontrar tanto, tenho os meus braços e eles são o que preciso. Tudo que preciso está em meus braços. Toda força que preciso. 
Hoje eu resolvi partir e certamente é a melhor decisão que tomei.


sábado, 3 de junho de 2017

BuscA

....ali no espelho, com os olhos bem marcados por uma noite de insônia, era alguém irreconhecível. tentei ver no fundo daquele olhar alguma lembrança ou traço do ontem mas nada era familiar. juntei o pouco que tinha, e muito bem caberia numa mochila, deixei orientação para o vizinho sobre a comida e água dos gatos e saí em busca do ponto onde me perdi. ninguém acorda com a resolução de "abandonar paixões" e ser mais uma no meio de tantos outros. as cicatrizes e tatuagens reforçam nossa singularidade. numa cidade do interior encontrei uma calça marrom, que um vendedor alegre ficou insistindo o tanto que ficava simpática em mim...hoje justamente é um pedaço dessa calça, pintada de preto e feita de short que uso. numa rua de um país estrangeiro encontro novamente um caminhante, pedindo cigarros de forma tão elegante e amigável que quase fiz o convite para uma caneca de 500ml de chopp alemão. em outra cidade me vi sentada numa cadeira de plástico branco, filmando uma banda promissora num festival de música... como eu amava aquele som. numa feira de livros um poeta português, que alimentou minh'alma com a vontade de escrever (quisera eu bem) e deixar registrado sentimento em palavras. num café tradicional da minha cidade natal vejo um amigo, que se rotulava de "a bicha mais macho" que qualquer pessoa conheceria na vida...e a vida dele se foi, de forma que eu até hoje não consigo aceitar...eu e ele e nossa secreta competição de quem fuma mais enquanto tomávamos cappucinno. me vejo também dançando, com os olhos fechados, em frente a uma caixa de som, num lugar pequeno, e pedindo a um cara alto para pegar uma estrela grudada do teto. onde será que guardei essa estrela? certamente não é a que está em minhas costas. me vi parando o carro numa rodovia, apenas para tirar uma foto ao lado de uma flor, a mais linda de todas e sentindo paz no corpo. vi isso e tanto mais... cada retalho era eu. mas em nenhum desses lugares consegui identificar onde parei, onde deixei-me para trás. dói tanto quanto amor resgatar essas saudades e reconhecer que não há mais aquela pessoa. hoje só existe a com os olhos bem marcados por uma noite de insônia. hoje não sei como voltar para casa e muito menos consigo ficar nessas lembranças. apenas o reconhecimento que essa busca durará muito tempo....


terça-feira, 30 de maio de 2017

Dia comuM

...a última coisa que sobra da pátria é a língua... tenhamos a leveza de estar em todos os lugares sem estar em lugar nenhum.... todos os olhares com os olhos fechados... a saudade de beijos não dados...