quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Na beira da estrada

... ainda é possível sentir o cheiro do café recém coado. Aquele aroma invade toda a cozinha e se espalha pela casa. Em volta da mesa sentam-se as sombras. As canecas esmaltadas, com o azul descascado, brincam entre os vazios. Acima do fogão de lenha linguiças defumam-se.


A vassoura ainda limpa os cantos e permite que as aranhas decorem as quinas. Sua teia faz a renda tão delicada que em nenhum outro lugar será encontrada. Fios brancos sobre tijolos em pedaços. O chão de piso batido carrega as marcas de pés e patas. As portas e janelas aceitam o vento, a chuva, o sol. O telhado se alegra com as noites de lua cheia.

Sempre que vejo uma casa abandonada penso nas pessoas e nos sentimentos que moraram ali. Imagino as risadas, as crianças pulando as janelas para brincarem no quintal. O gato que dormia no beiral, enquanto o sol morno fazia da manhã a esperança de tempos melhores. Imagino as noites em que, sentados no quintal, os pais olhavam os filhos e rezavam pela segurança e futuro deles. As camas simples onde os sonhos eram puros.


... ainda é possível sentir o cheiro de quando a água é salpicada no chão para que a vassoura não levante muita poeira. As mãos delicada da filha mais velha zelando pela casa. O filho caçula pedindo por outro pedaço de bolo. A alegria de todos quando o pai trazia um peixe fresco e a mãe já pensando na farra na hora do jantar.

Sempre que vejo uma casa abandonada um buraco em meu peito aumenta. O vazio do outro me invade e eu reescrevo a história que poderia ter sido feita ali. As pessoas agora são sombras que estão grudadas nas paredes e nos pedaços dos móveis. Os sonhos foram absorvidos pelas teias de aranha e apenas as folhas secas brincam pelos cantos, juntamente com o vento. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário