... alguns vazios não podem ser preenchidos. penso neles como machucados, que param de sangrar, depois param de doer, criam uma casca e, ao passar do tempo, tornam-se cicatrizes. isso, são vazios cicatrizes. podemos até arriscar uma "auto mentira", executando uma tatuagem sobre eles, mas eles estarão lá, por baixo do rabiscado.
... e uma nova analogia surge nessa minha divagação: esses vazios cicatrizes são como a costura de uma colcha de retalhos. nossos muitos pedaços unidos por essas linhas disformes que percorrem todo nosso corpo, nossa alma.
... a tarde dessa sexta-feira, que começou ensolarada, se fez cinza. até as plantas do desconexo jardim estão apagadas, como se ao final de suas forças para sustentação nos vasos embaralhados. talvez, quando for noite e eu estiver fumando e olhando para lugar nenhum, cante para elas, aquelas canções que acreditei que seriam parte de uma boa história.
... curioso como eu, em certa época, contei com tanta vibração e brilho nos olhos, sobre os encontros, desencontros e reencontros. cheguei a narrar a mágica do universo em unir pessoas, acreditei em predestinação. construí planos, fundados nos sonhos que costurei por muito tempo sozinha. Eu ainda estou aqui, mas já não tenho mais os planos, durante o caminho fui abandonando sonho por sonho, junto com outras partes de mim e hoje, nessa tarde cinzenta, percebo a dimensão do vazio que ficou... pois até as lembranças eu não consigo deixar registradas, por não saber o que é real e o que não é.
... eu quis contar que gravei no metal da minha pele o seu desenho, por alguns dias achei que teria a chance de mostrar ... agora sei que não e os dias arrastaram e não há mais o que dizer.
... a tarde dessa sexta-feira, que começou ensolarada, se fez cinza ... logo será noite... logo fará frio ... e outro dia vai chegar e ir embora e eu ainda estou aqui.