segunda-feira, 14 de março de 2022

DelicadezaS

 ... não estão conseguindo limpar a sujeira há muito entranhada nas ruas, casas, veículos, pessoas. Profissionais de limpeza urbana, diaristas, mecânicos, médicos e esteticistas usam verdadeiros arsenais e a sujeita continua instalada, sempre exalando o absurdo da atualidade, derrubando máscaras e desafiando a aspiração ao bom e ao belo.


Diante desse cenário a DelicadezA, cada vez mais tímida, em um desuso esmagador, vestiu-se com a melhor couraça que pode encontrar e refugiou-se da melhor forma que conseguiu, mas não tão distante como gostaria ... couraças são como mágoa ... difícil de serem carregadas, pesam mais a cada passo. Tem sido difícil comer, o alimento é escasso, raro encontrar doçura, suavidade, cortesia... a DelicadezA habita impercebível em gavetas, prateleiras, brinquedos de pelúcia esquecidos no fundo dos armários, nas esquinas, jornais e anúncios de televisão, esmaecendo seu brasão.

Mas ela ainda sobrevive ... vez ou outra encontra quem se delicia com minutos olhando para o céu, quem sorri com boas notícias ou chora dividindo a dor com o outro. Seres que possuem os olhos transbordantes de sentimento, e se recusam a deixar que a sujeira vire uma segunda pele. Quem suspira com o vento no rosto, tem livros e músicas espalhados pelo lar, pelo caminho. A DelicadezA sobrevive nos pequenos gestos, no pão com manteiga, na foto emoldurada, no cheiro do travesseiro numa manhã de sol, na fruta amadurecida no quintal.

A DelicadezA sobrevive, e quem a cultiva espera a era em que será tão corrente quanto a sujeira que hoje a esmaga, pois bem sabem ser utópico um mundo completamente liberto da bestialidade.

Um comentário:

  1. Ah Denise, minha poeta, minha mulher fantástica, linda e rara, sorte a minha,!

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