Era uma mulher com uma sombra crescente, que de noite rangia os dentes e chorava baixinho. Que via em suas mãos a marca dos dias passados. Sua pele perdendo o viço da mocidade.
Era uma mulher com uma sombra, que trazia em seus olhos de rubi a cor da bagagem esquecida, dos amigos que amava e já não encontrava.
Era uma mulher sombra, que os sapatos apertados dificultavam a ida. E para onde ir?
Era uma sombra com sua mulher, que fez-se forte com o pesar galopante.
Era uma sombra que fez-se tudo.
(inspirado nos poemas "O homem e sua sombra" de Affonso Romano de Sant'Anna)