Quando virei a esquina e comecei a andar por aquela rua, tinha a certeza de nunca ter estado ali. Não conhecia os prédios, as janelas fechadas das casas não lembravam nada. Nenhuma árvore ou arbusto era familiar. Um lugar novo e sem aquele sentimento de gosto bom nos olhos. Os carros passavam rápido e as pessoas tinham um tom de cinza na pele.
De forma mecânica eu abri a bolsa, peguei um cigarro e continuei andando, sem muita certeza se estava no caminho certo.
Foi quando um pé de vento levantou todas as folhas secas que inundavam o passeio. Senti na mesma hora o cheiro de ontem. Senti aquele perfume bom que existe atrás da orelha da pessoa que se gosta. Minhas pernas fraquejaram, e eu não conseguia decidir se deixava-me ficar ali ou se continuava. Nessa horinha de descuido tudo ganhou uma aparência nova. Bem disse que felicidade se encontra assim.
Sempre gostei da brincadeira que o vento faz quando levanta as roupas, acaricia as peles, bagunça os cabelos e hoje, além de tudo, ele invadiu minha alma. Intruso, conseguiu que tivesse vontade de sentar na grama, ficar descalça e ler um livro antigo, tomar café, e esquecer do tempo, que aliás tem feito-me prisioneira de um modo que não gosto.
Quis ser vento, quis ser suave e inesperada ... e fazer o ontem também sentir um gosto bom. Cantar nas frestas das janelas, espalhar dentes-de-leão no ar para quem ver sentir minutos de bem estar como eu sinto quando isso acontece.
Quis ser vento e ir...
Quis ser vento e ir...
Nenhum comentário:
Postar um comentário