Hoje não posso reclamar do sol. Penso que derreteu (amoleceu???) algo em mim. Foi como há muitos anos, quando estava debaixo de um telhado de zinco, vendo minha avó com sua pele castigada e negra, mascando fumo e entoando cantingas de umbanda....
Quisera saber as respostas para as questões da vida. Na verdade, creio que me bastaria saber as perguntas, porque, sabendo-as, saberia que há respostas a serem buscadas. Sei que é muito fácil ficarmos tristes, ou mesmo passarmos a vida inteira tristes. E que nossa tristeza decorre em sua maior parte de vivermos para os outros, e não para nós mesmos, como seria o certo.
Vivermos para os outros em todos os sentidos; desde a roupa que usamos porque nos disseram que devíamos usar, ou o livro que escrevemos para que nos achem mais sábios, até o trabalho que toleramos (engolimos), para agradar a todas as aparências sociais. Um dia ainda coloco um nariz de palhaço só para que todos me digam que não o posso usar, porque, afinal: o que é que os outros pensariam? Onde estão afinal esses “outros” de que tanto nos falam? Que tantas verdades lhes diria, se os encontrasse? Esses outros não existem, mas de tanto ouvirmos falar deles acabaram por existir em nós mesmos. Em todos nós. Não ponho um nariz de palhaço porque eu não poderia coexistir com a idéia que eu faço de mim mesma.
Mas é tão fácil também sermos felizes que nem acreditamos. O que realmente queremos, e não o que querem por nós desde que nascemos, não podemos comprar ou conquistar porque já nos foi dado de graça, sem que o pedíssemos. Falam em caminhos ruins e sem volta. Todos os caminhos são sem volta. O que chamamos volta já é, em verdade, um novo caminho. De forma que só vale pensar no caminho a percorrer: que possa ser o melhor possível. Não vou repetir aqui as incontáveis lamúrias que tantas vezes disse sobre emprego e sobre ser filha, até porque quero já quero pensar o mundo a partir de mim mesma. E quero ter um inquebrantável otimismo em relação ao destino humano
Temos todos uma vocação inata a Quincas, resta-nos apenas descobrir nosso próprio berro d’água.
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