Quando nasci fez-se noite na cidade. Todos acreditaram que era um eclipse não previsto e apenas minha mãe chorou pela sina que aquela escuridão representava. Eram 13:00 horas. Passou-se um ano de noite triste. Todos os dias eram de um céu sem estrelas, sem lua, e nenhum sinal do sol. Aprendi a andar muito rápido, pois como os animais fui ensinado a sobreviver sozinho. Nunca foi associado ao meu nascimento aquele ano morto, mas não houve nenhuma comemoração também. A igreja apesar das portas sempre abertas viu a fé das senhoras com lenços preto diminuir até o fim. Os homens deixaram-se estar nos bancos da praça, num jogo de damas interminável. Quando as velas acabaram os automóveis foram aposentados, pois usou-se o combustível para as empoeiradas lamparinas, relíquias de bisavós cuidadosas. Ninguém preocupava com os afazeres das casas ou com a lavoura.
Minha primeira palavra, aos 9 meses, não causou espanto: "escuro". Era praticamente o que se ouvia. Ao findar dos 12 meses, exatamente às 13:00 horas notamos o amanhecer. Mas não vimos um dia quente. O sol era morno, de um amarelo apagado. Tudo o que víamos eram plantas pálidas e diminutas. Imperava doenças e miséria pelo vilarejo. A maioria correu para a igreja e encontrou-se um senhor barbudo, fazendo palavras cruzadas, sentado próximo ao altar. Assustado com a volta das carolas o padre tratou de esconder sua revista, e mesmo sem batina propôs que rezassem um terço, pois o milagre da vida deveria ser comemorado. Em silencio tudo assisti, e deixei que pensassem que meus poucos e escuros meses eram insuficientes para que eu entendesse o que acontecia. Mas eu sabia que nunca mais seria como antes.
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